04 novembro 2017

"Once upon a time..." - Episódio 121

Não há muito para falar do Francisco. Ele era um miúdo fixe, quando nos conhecemos. Tinha uma forma muito ligeira de ver a vida, para ele os problemas eram as oportunidades no dia seguinte... Nunca vi em toda a minha vida um gajo que levasse a vida tão na boa. Para ele estava sempre tudo bem, desde que não o chateassem.. Tudo bem...
Passámos tantas horas à conversa dentro do carro, ele ouvia todos os meus lamentos. Foi o único gajo que nunca me disse para me divorciar. Seria a minha decisão e um dia iria ter que optar... Nunca me exigiu nada, nem nunca fazia perguntas acerca da família. Ele punha-me a falar. Ele deveria ter sido psicólogo.
Um dia conheci o António, já ouviste falar dele?!
Cátia acenou a cabeça com um sim e escutava o pai em total silêncio
Éramos os três e mais uns amigos que fazíamos grandes tertúlias ali junto ao rio. Um dia, apareceu o Hugo. Que paixão.
Cátia: - Se namoraste com Hugo, porque a mãe odeia tanto o Francisco e a Avó o Adora?!

Filipe: - O Francisco era um betolas. Aparecia de todo vestido de marcas e dizia que não ligava nenhuma a marcas. Aparecia com umas Levis que custavam uma fortuna, no dia seguinte trazia umas Chevigon e uniform. Eram as marcas da moda naquela altura. Tinha sempre o seu sapatinho de vela, ou o seu All Star calçado. Era menino da Capital e do T-Clube. Estudara em colégio particular e Universidade Particular.

Cátia: - Estamos a falar do mesmo Francisco?!

Filipe: - Estou a falar do Francisco que comprava um Pólo ou uma camisa de 100 euros se pestanejar. Que quando tirou a carta de condução, os paizinhos deram-lhe um Pólo GT. A tua avó adorava esta forma do Francisco e da forma educada que ele a conquistara. Ele chegou a levar a tua avó a uma consulta qualquer e depois levou-a a ir a lanchar no moinho ali para os lados do Guincho. Questiona a tua avó...

Cátia: - E, porque a mãe o odeia?!

Filipe: - Eu estava apaixonado pelo Hugo e a tua mãe pensava que eu amava o Francisco. Um dia foi-lhe bater à porta, para o ofender mesmo. Francisco começara a viver com o António há muito pouco tempo. Eles tinham começado, nem há 8 dias. Eles viviam na Estrada de Benfica, numa das casas de família do Francisco. Francisco saíra mais cedo para ir trabalhar, quando a tua mãe bateu à porta. Foi António que abriu a porta e fez-se passar por Francisco. Ficou a saber de uma verdade que não era uma verdade. António nunca perdoou Francisco até aos dias de hoje. A tua mãe estava cega de raiva e por António não lhe ter dado resposta. O Rapaz estava atónico com o que se estava a passar... Uma mulher a bater-lhe à porta porque o seu namorado de há 8 dias andava a traí-lo com o seu marido. A tua mãe queria "sangue", sabes que a tua mãe adora um bom espectáculo para se fazer de vítima. António como abrira a porta, a fechara... Não tinha proferido uma única palavra...
Nessa mesma noite, durante o jantar a tua mãe diz em alto em bom... - Sabem onde estive esta tarde?! Fui a casa do amante do meu marido. Meu querido sogro. Sabe que o seu filho gosta de homens e de levar no entrefolhos do cu?!

Lágrimas escorriam pelos olhos de Cátia...

Filipe: - Francisco soube da verdade da história quando a tua avó o confrontou com a realidade. Ela que tinha encorajado Francisco em avançar com António, por este ter menos posses mas que era um bom rapaz com um bom coração. A tua avó sempre soubera que eu era gay e sempre tentara esconder esta condição do teu avô. Ela morria de medo, se ele soubesse que eu era gay. Ela queria que eu fosse muito feliz, porque era seu filho. Ela ficou radiante quando disse que iria casar com a tua mãe. Eu e a tua mãe éramos grandes amigos na faculdade e numa noite de copos, disse-lhe que era gay. Ela chorou, mas acedeu em casarmos quando eu e o João terminámos. João foi o meu primeiro namorado e a minha grande paixão. O teu avô é que nunca mais foi o mesmo comigo nem com a tua mãe. Eu só entrava lá em casa, se as netas estivessem presentes. Para ele, eu e a tua mãe tínhamos morrido naquele jantar.

O resto pergunta à tua avó...

Cátia: - Há mais?!

Filipe: - Vamos jantar, já chega de histórias tristes... E para triste, já chega este tempo...

2 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Meu Deus, que coisa complicada!

Francisco disse...

Paulo Roberto

Tanto gay que casou e que ficou deveras complicado quando mulheres ou familiares descobriram :)